10 Luzes coloridas em meio a escuridão

24 de dezembro. E lá vai a pequena garotinha, a passos lentos, se aproximando do portão.
A pequena cidade mal iluminada, as casas simples com decoração escassa e algumas poucas luzes natalinas são o universo da menina. Ela se segura nas estacas de madeira que formam o portão de sua casa, apóia o queixo sobre os braços, e suspira.

A mistura de luzinhas coloridas, crianças brincando nos pátios de suas casas, um céu incrivelmente azul e músicas natalinas de fundo fazem com que ela se derreta em lágrimas. Mas não ali, não na frente dos familiares distantes que enxergam o natal - apenas - como uma boa ocasião para colocar a conversa em dia. Eles pensariam que ela é infeliz ou problemática (como já costumam fazer durante o ano inteiro..).

Pela quantidade de carros sofisticados estacionados em frente as residências, a menina percebe que os vizinhos receberam os parentes para celebrar o Natal, e se ficar bem quietinha, consegue até ouvir as risadas das pessoas à sua volta. É tudo que ela adora: olhar para o infinito e imaginar o mundo inteiro montando suas árvores cheias de enfeites e enchendo seus terrenos de luzinhas pisca-pisca. Parece tão lindo. E as pessoas parecem tão animadas, o tempo todo.

Gente gritando, televisão ligada nos especiais da Rede Globo - que na realidade, acaba sem ser visto por ninguém -, tias preparando os pratos do jantar e tios conversando sobre seus empregos ou futebol.
A festa de sua família dura, mais ou menos, até UM MINUTO após a meia-noite (eles não veem que a festa deveria durar a noite inteira?). Os parentes vão embora e ela, bem...ela continua lá, observando os poucos fogos de artifício que os vizinhos conseguiram acender, até que seus pais a confortem e a chamem para ir dormir. Antes de fechar os olhos, traduz sua emoção em lágrimas, finalmente.

Ela não chora porque o Papai Noel não chegou,
ela chora por saber que, quando as luzes se apagarem, tudo pode voltar à escuridão novamente.